skip to main |
skip to sidebar
uma "boa cena 'noir'", segundo um professorzinho de produção do texto e escritor nas horas vagas
Girou a chave na fechadura lentamente, como se não tivesse mais forças pra coisa alguma. Entrou no apartamento poeirento – há quantos meses não se dispunha com aquela coragem submissa de zelador, o que de fato era, a limpá-lo? Talvez desde aquele dia sobre o qual não falou mais... De que adiantava falar? E mesmo que adiantasse, com quem falaria? O cansaço e a mágoa eram tamanhos que preferia calar. Despiu-se como se fosse ao banho. Não foi. Ao invés disso, abriu a geladeira e mirou tudo o que nela havia: uma lata de sardinhas aberta há alguns dias, uma caixa de leite já azedo, uma cenoura cortada pela metade e um fardo de latas de cerveja barata. Sentia fome! Pegou o fardo de cerveja e foi à poltrona imunda na sala, como se fosse assistir televisão. Não ia. O aparelho foi destruído por um cinzeiro quando uma atriz de um enlatado americano lembrou-lhe o rosto dela. Ia beber até dormir, como costumava fazer ultimamente. Só assim pegava no sono. E não sonhava.* *acrescentei essa última frase para o blog, para dar um desfecho. a idéia do exercício era fazer um único parágrafo inicial de um conto, mas acho que um primeiro parágrafo já é um bom conto. O professor é Cristovão Tezza, para informações sobre ele clique em seu nome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário